Nanopartículas de CuO muda o comportamento de adsorção de nanopartículas de SiO2

É conhecido que nanomateriais possuem alta área de superfície e isso contribui para sua propriedade de adsorção. Porém o que acontece quando dopamos uma nanopartícula com outra nanopartícula? Foi o que fizemos e depois dos testes de adsorção foi observado um incremento.

Nanopartículas de óxido de cobre (CuO) foram depositadas sobre a superfície de nanopartículas de sílica (SiO2) e a capacidade de adsorção das nanopartículas de sílica foram comparadas e foi observado que após a modificação da superfície com CuO a adsorção aumentou consideravelmente, como pode ser observada na Figura 1.

Figura 1: Cinética e eficiência na adsorção de AM para nanopartículas de SiO2/CuO e SiO2 com 50 e 75 mg em concentração fixa (40 mg/L) de AM: (a – c) comparação da cinética de adsorção; (b – d) comparação de eficiência na adsorção do AM.

O teste de adsorção foi feito com duas porções de massas distintas de nanopartículas: 50mg e 75mg. A concentração do azul de metileno foi mantida e fixada em 40mg/L. O que se observa é que a adsorção do azul de metileno para a nanopartícula de SiO2 sem presença de CuO é imediata, porém muito limitada quando comparada com as nanopartículas de SiO2 modificada. Para o caso onde foi usado 75mg de nanomaterial, a eficiência de adsorção foi quase 100%, tendo capacidade de adsorção em aproximadamente 25mg/g, ou seja, 1g do nanomaterial tem a capacidade de adsorver 25mg do adsorvato.

O azul de metileno é um corante catiônico que possui estrutura molecular plana preferindo uma adsorção em monocamada. A forte interação entre adsorvato-adsorvente resulta da presença de grupos catiônicos. As nanopartículas de sílica tem característica hidrofóbica possuindo assim uma interação deficiente com o solvente. Quando modificadas, a presença de pontos aglomerados de CuO e de íons Cu2+ perturba o equilíbrio fazendo com que haja maior atração iônica da superfície do nanomaterial com as moléculas do adsorvato.

Referência

Avaliação da atividade antimicrobiana e adsortividade de nanopartículas de sílica dopadas com CuO DOI: 10.1590/S1517-707620190001.0661

Nanomateriais antimicrobianos

Você sabia que existem mais microrganismos em você do que pessoas no planeta, neh? Sim! Eles dominam a Terra e não os Gatos Illuminati como se supõe por ai… Embora sabemos que esses microrganismos sejam naturais e importante para nosso funcionamento biológico, alguns deles causam problemas de saúde, como infecções, micoses, candidíase, pneumocistose, tuberculose, etc… Antibióticos e outros fármacos que combatem esses microrganismos é muito comum de serem usados, porém os nanomateriais antimicrobianos vem sendo cada vez mais aplicados contra microrganismos de forma isolada ou em conjunto com esses fármacos no combate às doenças infecciosas. Embora a aplicação contra microrganismo seja comumente citada, ainda não se tem a exatidão dos mecanismos em que esses nanomateriais agem contra bactérias e fungos.

A nanotecnologia entra nessa jogada devido à resistência que microrganismo adquirem aos antibióticos. O nanomaterial antimicrobiano mais conhecido é de longe a nanoprata. Embora sua atividade antimicrobiana seja poderosa, ela contém alguns inconvenientes em algumas aplicações, fazendo cientistas buscar novas alternativas.

Entre os materiais mais estudados se encontram os nanometálicos  como a Ag e o Cu; e para os nano óxidos estão a Ag2O, ZnO, CuO, MgO, Cao e o TiO2.

Nanopartículas de prata

A prata possui um enorme potencial antimicrobiano podendo ser atribuído aos muitos mecanismos de ação contra os microrganismo (Figura 1). Entre  esses mecanismos estão a habilidade de se anexar na parede da membrana celular do microrganismo – interrompendo a captação de nutrientes necessários – e a penetração da mesma, causando buracos na membrana celular ocasionando o vazamento do material celular contido no seu interior.

A nanopartícula de prata pode interagir com grupos tióis (-SH) e aminas (-NH), se ligando a estruturas enzimáticas e em bases nitrogenadas do DNA, perturbando o funcionamento biológico da célula bacteriana.

Nano

Figura 1. Os diferentes mecanismos de ação da nanoprata no controle de microrganismo

 

Nanopartículas de ZnO

A segurança de ZnO e a compatibilidade com a pele humana torna-a adequada como aditivo para tecido e superfície que vem entrar em contato com o corpo humano. nanopartículas de ZnO apresentam atividade antimicrobiana para bactérias Gram-positiva e Gram-negativa. A propriedade antimicrobiana de ZnO aumenta com a diminuição do tamanho de partícula, podendo em uma concentração ideal ser até mais potente que a própria nanoprata.

Nanopartículas de ZnO também são fotocatalíticas, o que contribui fortemente na sua atividade antimicrobiana. Nanomateriais fotocatalíticos geram espécies de oxigênio reativos, como os peróxidos e os radicais livres, que exterminam microrganismos. Assim como as nano ZnO, TiO2 também possui atividade fotocatalítica, agindo da mesma forma.

O mecanismo exato de ação de ZnO é ainda desconhecido, entretanto atribui-se duas possíveis propostas:

1)Geração de peróxido de hidrogênio

2)Acumulo de partícula na superfície celular da bactéria devido ás forças eletrostática.

Nanopartíulas de TiO2

Propriedade antimicrobiana do TiO2 está relacionada com a sua estrutura cristalina , forma e tamanho. O estresse oxidativo via geração de radicais livres pode ser uma particularidade importante no mecanismo para nanopartículas de TiO2 (fase anatase).

Propriedade fotocatalítica das nanopartículas TiO2 auxiliam na eficiência de erradicação bacteriana

Nanopartículas de Au

Nanopartículas de Au são não-tóxicas, possuem alta habilidade de funcionalização e efeito polivalentes.

Embora a geração de espécies de oxigênio reativas seja a principal causa de morte celular da maioria dos antibióticos e nanomateriais antimicrobianas, o Au não possui indução alguma dessas espécies.

Cui et al. provou que a atividade antimicrobiana de nanopartículas de Au são ocasionadas por:
1) a fixação destas nanopartículas à membrana bacteriana, seguida da modificação do potencial da membrana e do decréscimo do nível de ATP e
2) inibição da ligação de ARNt ao ribossomo

Estudos reportam que nanoAu funcionalizadas com 5-fluorouracil possuem maior efeito em bactérias Gram-negativas do que em Gram-positivas devido á facilidade de internalização.

Interação de cargas negativas com membrana celular que possui carga positiva.

Lima et al. reportam efeito antimicrobiano de até 95% contra E. coli e S. Typhi. Os autores relatam que a propriedade biocida foi ocasionada pela rugosidade e dispersão das nanopartículas de Au.

Nanopartículas de SiO2

Nanocompósito Ag/SiO2 possuem propriedades antimicrobianas mais potentes contra E.Coli e S. Aureus e C. Albicans enquanto que Au/SiO2 não apresentam atividade.

SiO2 atua como matriz para incorporação de nanometálicos com atividade antimicrobiana.

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Figura 2 : Core-Shell de nanopartículas de sílica antimicrobianas.

 

MgO e CaO

CaO e MgO indicam forte atividade antimicrobiana relacionado à alcalinidade e espécies ativas de oxigênio.

O mecanismo é provocada pela geração de superóxido na superfície dessas partículas, e também um aumento no valor do pH pela hidratação de CaO e MgO com água.

Nanopartículas de MgO causam danos na membrana celular  que consequentemente ocasionam vazamento dos conteúdos intracelular, causando a morte da célula.

Nanopartículas de MgO sozinhas ou combinadas com Nisina, um peptídio antimicrobiano, apresenta efetividade contra E. coli e Salmonela Stanley, podendo ser usadas como agente antimicrobiano em alimentos para melhorar a segurança alimentar.

Nanopartículas MgO e Cao isoladas ou em combinação são alternativas para desinfetantes com baixo custo. Isso as torna promissoras como agente antimicrobianas.

Nanopartículas de Cu e CuO

Nanopartículas de cobre possuem grande interesse para cientistas devido às suas propriedades biológicas, fisico-química e atividade biológicas a um baixo custo. Entretanto o cobre possui uma rápida oxidação quando exposta ao ar, limitando sua aplicação.

Testes com nanopartículas de CuO indicam que possuem atividade antimicrobiana.  Acredita-se que as nanopartículas atravessam a membrana celular da bactéria e os danos nas enzimas vitais são gatilhos para o fator crítico nas morte celular.

Tamanho, estabilidade e concentração são fatores que contribuem para o efeito antimicrobiano. De um modo geral podem atuar de forma isolada ou incorporadas em nano ou micromateriais, como é o caso de zeólitas, que impregnadas com CuO adquiri propriedade antimicrobiana se tornando multifuncional.

 

Referências

Antimicrobial activity of the metals and metal oxide nanoparticles DOI: 10.1016/j.msec.2014.08.031

Antimicrobial Activity of CaO Nanoparticles DOI: 10.1166/jbn.2013.1681

Silver nanoparticles: the powerful nanoweapon against multidrug-resistant bacteria DOI: 10.1111/j.1365-2672.2012.05253.x

 

Materiais hidrofóbicos: nanotecnologia

(TECIDOS FASCISTAS E HIDROFÓBICOS!)

Você já deve ter visto por ai tecidos que repelem a água ou roupas que não sujam. Mas como isso é feito? Vamos tentar entender isso de mais perto, digamos, alguns bilionésimos de metros mais perto.

A nanotecnologia sem dúvida está cada vez mais nos surpreendendo, de acordo com os avanços que podemos ver nas pesquisas  de hoje.

A tecnologia em tecidos tem sido uma das aplicações de nanomateriais. Talvez pelo fácil apreço comercial.

Roupas antimicrobianas possuem atrativos em relação à saúde num mundo onde cada vez mais estamos a mercê de novos contaminantes microbiológicos. E tecidos que são sujam? Interessante, não? Fala isso pra sua mãe.

A natureza é uma máquina incrível e algumas inspirações tecnológicas tentam imitá-la. Muitas superfícies biológicas tem a capacidade de repelir água e por consequência adquirem um sistema autolimpante.  O maior exemplo disso são as folhas da flor de Lotus (Figura 1 e 2).

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Figura 1: Flor de Lotus desabrochada

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Figura 2: Folhas da planta repele a água

A flor é mesmo muito bonita, tanto é que ela possui um apelo místico no oriente. Mas o que nos interessa aqui são as folhas. Vejam na Figura 2 as gotas de água que não molham a superfície, sendo dessa forma hidrofóbicas.

A hidrofobicidade se dá pela nanoestrutura na folha que apresenta rugosidades capazes de aumentar a tensão superficial da água impedindo ela molhar. Por causa disso foi denominado “efeito flor de lótus” para superfícies sintéticas criadas para possuírem propriedades hidrofóbicas, sendo essas causadas por rugosidades a nível nanométrico [1,2].

Entre os efeitos da hidrofobicidade está o fenômeno de autolimpeza. A Figura 3 ilustra como isso ocorre. As folhas da flor de lótus são capazes de remover impurezas depositadas sobre a superfície por um mecanismo de rolagem das gotas de água.

Rugosidade e autolimpante

Figura 3: Diagrama relacionando rugosidade e propriedade autolimpante. Imagem adaptada de Barthlott 1997 [1]

Rugosidades

Figura 4: Morfologias de nanopartículas na criação de em rugosidade. a) SiO2 e b) ZnO nanorods Park 2015 [2]

Existem várias formas de produzir uma superfície hidrofóbica. Alguns usam dip-coating (Figura 5), síntese in-vitro, etc… Na maioria das vezes são sitetizadas nanopartículas sobre a superfície proposta.

No caso de tecidos, modificam geralmente a superfície das fibras de algodão, que é material usado na produção de vestuários.

Na Figura 4 (figura acima) mostra em a) nanopartículas de sílica e b) nanorods de ZnO.

HP

Figura 5: Gotas de água em uma superfície hidrofóbica modificada por processo dip-coating. Gurav 2015 [3]

Um dos materiais mais usados na obtenção de superfícies hidrofóbicas são nanopartículas de sílica, por serem robustas e de fácil obtenção. Para saber mas sobre  nanopartículas de sílica pode-se dar uma olhada aqui.

Pra mostrar o quão “fácil” é obter tecidos hidrofóbicos, me dispus a experimentar algumas técnicas. De forma bem resumida, de algumas testadas consegui apenas uma e por negligência não foi anotada e foi perdido a informação da forma exata de obtenção, sendo assim perdida no caos a fórmula precisa. Mas tenho as fotos pelo menos (RÁ!).

Claro que isso foi feito por curiosidade apenas. Mas resumidamente algumas observações:

  1. O tecido em questão foi de algodão. Nota-se que não houve mudança na coloração, o que é bom. É impossível perceber qualquer mudança a olho nu. as fibras foram recobertas por nanopartículas de sílica que nuclearam e cresceram nas fibras, parecidas como as da figura 6.
  2. A deposição das nanopartículas de sílica se deram da seguinte forma (mais ou menos, porque não foi registrado): O tecido foi submersa numa mistura de água. alcool e ortossilicadto e Tetraetilo (TEOS) . Foi agitado por um período e então uma quantia de hidróxido de amônia foi adicionado na mistura. Com isso inicia-se a hidrolização do TEOS formando as nanopartículas que causará rugosidade na superfície do tecido.

MEV

Figura 6: micrografias eletrônica de fibras de algodão modificadas. Zhang 2013 [4]

 

Referências

[1] W. Barthlott,C. Neinhuis. Purity of the sacred lotus, or escape from contamination in biological surfaces. 1997.  DOI: 10.1007/s004250050096

[2]Park, Sohyun, Kim, Jooyoun, Park, Chung Hee.  Superhydrophobic Textiles: Review of Theoretical Definitions, Fabrication and Functional Evaluation. 2015. DOI:  ? (não encontrado)

[3]Gurav, Annaso B. Xu, Qingfeng. Latthe, Sanjay S. Vhatkar, R. S. Liu, Shanhu. Superhydrophobic coatings prepared from methyl-modified silica particles using simple dip-coating method. 2015. DOI: 10.1016/j.ceramint.2014.10.137

[4] Zhang, Ming. Wang, Chengyu. Wang, Shuliang. Li, Jian. Fabrication of superhydrophobic cotton textiles for water–oil separation based on drop-coating route. 2013. DOI: 10.1016/j.carbpol.2012.08.118

Nanopartículas de sílica

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Muito comum lermos sobre nanopartículas reativas ou catalíticas que atuam de forma direta. E no caso de nanopartículas inertes, como é o caso da sílica? É sobre esse nanomaterial que vou abordar aqui neste artigo.

A sílica é o material mais abundante da crosta terrestre, formada por óxido de silício (SiO2). Nanopartículas de sílica são nanoestruturas que possuem alta área superficial estabilidade química e térmica. Tais características fazem delas excelentes substratos e suportes catalíticos.

As nanopartículas de sílica são consideradas “potes” modernos, nano reservatórios que podem servir como carreadores de biomoléculas.

Na área da biomédica o seu emprego e estudo vem trazendo melhorias quanto a dosagem e aplicação de fármacos pontual. A habilidade de adsorver biomoléculas em seu interior, decorrente da porosidade, permite a liberação do fármaco de forma lenta e controlada.

Morfologia das nanopartículas de sílica

Elas podem ser maciças ou porosas. As do tipo porosa atraem mais a atenção pela sua grande área superficial e pela habilidade de encapsular moléculas em seu interior. O tamanho da porosidade as classificam como microporosa (quando os poros são menores que 2nm), mesoporosa (poros entre 2 e 50nm) e macroporosa (quando poros são maiores que 50nm).

Os primeiros nanomateriais de sílica mesoporosas (MSN – Mesoporous Silica Nanoparticle) foram sintetizadas pela Mobil Oil Corporation. Essa nanoestrutura possuíam formas hexagonais e foi classificada como MCM-41.

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Esquema de formação do nanomaterial de sílica mesoporosa do tipo MCM-41

Síntese de nanopartículas de sílica

Stöber em 1968 descreve uma rota sintética de nanopartículas de sílica  com base nos estudos de Kolbe em 1956.

A síntese constitui em uma hidrolização de um alcóxico de silício, geralmente o ortossilicato de tetraetilo (TEOS) em presença de etanol catalizada por uma base forte. Na etapa de condensação há a desalcoolização e formando assim grupos silanóis que darão início a polimerização.

silica

Mecanismo da formação da sílica

A presença de grupos silanóis (Si-OH) contribuem muito para funcionalização do nanomaterial.

Para formar nanopartículas mesoporosas usa-se surfactante  formando miscelas que serão os moldes dos poros. Após a síntese deve-se retirar o tensoativo. Pode-se retirar mediante a energia térmica, com calcinação, ou então com solução ácida.

Aplicações

Na área médica, como foi descrito anteriormente, vem chamando muito a atenção. Não apenas na questão de aplicação pontual, liberação lenta e controlada como também a sua capacidade de ser multifuncional.

Podem ser funcionalizadas por moléculas que combinam propriedade de diagnosticar e tratar determinadas doenças. É mais comum vermos aplicação em câncer, da qual detecta e inicia o processo de terapia em seguida.

A habilidade de carreamento não se limita apenas na medicina. Nanopartículas de sílica podem ser aplicadas na agricultura como fertilizantes, herbicidas e pesticidas. A nanotecnologia está cada vez mais presente na agricultura podendo fazer mais com menos, diminuir a porção química economizando e diminuindo impactos ambientais.

Uma outra aplicação de nanopartículas de sílica é atuar como repelente de mosquito. Consiste em funcionalizá-la com material repelente – princípio ativo que no caso de mosquito é o DEET, como fizeram este estudo de Bae G. Y et al.

Certamente essas são apenas alguns exemplos e ainda há muito por vir.

Referência

Controlled Growth of Monodisperse Silica Spheres in the Micron Size Range 1
WERNER – DOI: 10.1016/0021-9797(68)90272-5

Silica-Based Mesoporous Organic–Inorganic Hybrid Materials – DOI: 10.1002/anie.200503075

Theranostic applications of mesoporous silica nanoparticles and their organic/inorganic hybrids – DOI: 10.1039/c3tb20249f

Superhydrophobicity of cotton fabrics treated with silica nanoparticles and water-repellent agent – DOI: 10.1016/j.jcis.2009.04.066

Como preparar nanopartículas de ZnO?

 

Assim como todos os demais nanomateriais, o óxido de zinco apresenta propriedades únicas (isso já é clichê, quase todos os artigos apresentam essa frase). Dentre essas propriedades podemos citar algumas, como estabilidade química, propriedade fotocatalítica, piezoeletricidade entre tantas outras.

Mas como é que se faz nanopartículas de ZnO?

Existem diversos métodos, mas aqui abordarei apenas o método químico (que na minha ínfima opinião é a mais fácil, já que com alguns béqueres, água e outras coisas básicas de laboratório é possível fazê-la).

Os métodos

No método químico pode-se usar tanto o processo Sol-Gel, quanto o de Precipitação. O processo Sol-Gel é muito utilizado para obter nanopartículas de óxidos metálicos (como a SiO2, TiO2, Etc…). As etapas que compõe o processo é a hidrolização, condensação, crescimento e agregação do precursor.

ALWAN et al. descrevem um procedimento para sintetizar nanopartículas de ZnOmeme via Sol-Gel. Você faz uma solução de acetato de zinco (12,6g em 400ml de água bidestilada) e então aqueça até 50ºC. Adiciona-se 600ml de etanol absoluto (não é absinto não…) enquanto agita vigorosamente a solução do acetato de zinco. Após isso, adicione gota-a-gota 6ml de peróxido de hidrogênio (H2O2, 47%). Deixe a solução incubada por 24h (overnight) e então seque-o em estufa a 80ºC. Posteriormente você precisa lava o pó (para retirar os sais e subproduto que são formados durante a reação) diversas vezes (isso nunca vai além do que 3 vezes…) com água bidestilada (destilada também vai funcionar) e depois só secar… Em estufa por algumas horas a 80ºC.

A boa notícia deste procedimento do artigo é que formou ZnO. A má notícia é que não ficaram exatamente “nano”. As partículas ficaram entre 100 e 200nm. A desculpa conclusão é que as partículas continuam crescendo mesmo a temperatura ambiente (Ixi… como  é que se controla isso? Colocando no freezer?).

zinco

Imagem de MEV de “nano” partículas de ZnO (ALWAN, et al. 2015)

Outro método é por precipitação. Eu particularmente usei o método a seguir, com pequenas adaptações (em parêntese). Muito mais fácil. Muito mais prático. Envolve menos etapas durante o processo também…

O procedimento é descrito por (AN et al., 2011) e é basicamente uma solução do sal de zinco (o procedimento segundo An et al. usa nitrato de zinco, mas eu usei sulfato de zinco heptahidratado) e uma solução de uma base (eles usaram KOH e eu usei NaOH. Ok… eu modifiquei praticamente todo o experimento, mas mantive a essência xD).

Faça uma solução 0,2M do sal de zinco (a que você tiver), coloque em um erlenmeyer ou um balão de síntese e agite. Em seguida adicione gota-a-gota uma solução 0,4M do hidróxido (de sódio ou de potássio). Enquanto ocorre a adição, a mistura começa a ficar branca e opaca. Isso é hidróxido de zinco sendo formado.

Mas espere… Hidróxido de zinco? E o óxido?

Após a adição total da solução do hidróxido de sódio (ou de potássio), deixe aproximadamente 20 minutos e então desligue tudo, lave com água 3 vezes e por ultimo com álcool. Seque em estufa.

Agora é que está a mágica. Você deve fazer uma calcinação para obter o óxido de zinco. Durante a calcinação o hidróxido de zinco é eliminado e o óxido formado.

Usando a equação de Scherrer para calcular o diâmetro médio, obtive valores próximos de 20nm. No artigo obtiveram entre 20 e 40nm.

Referências

ALWAN, R. M. et al. Synthesis of Zinc Oxide Nanoparticles via Sol – Gel Route and Their Characterization. Nanoscience and Nanotechnology, v. 5, n. 1, p. 1–6, 2015.

AN, L. J. et al. Synthesis of ZnO Nanoparticles by Direct Precipitation Method. Advanced Materials Research, v. 380, p. 335–338, 2011.

O que são Core-Shell?

Por favor… Não confunda com Corel-Draw ou com o posto de gasolina Shell

exemplo de CoreShell

Figura 1 – Exemplos de Core-Shell.

Costumamos falar das propriedades, como fazer e como caracterizar os nanomateriais, mas por vezes não damos a devida atenção no formato em que elas se apresentam.

Os nanomateriais podem apresentar diversas formas, sejam elas esférica, tubulares, em forma de fios ou fibras e até mesmo geometrias complexas e específicas. De um modo geral elas podem apresentar-se em 1D, 2D ou 3D. O seu formato interfere na propriedade final da nanopartícula, seja ela ópticas, eletroquímica, catalítica e por ai vai…

Neste post vou abordar brevemente sobre as nanopartículas do tipo Core-Shell. Este tipo de partícula é composta por um núcleo (Core) feito de algum elemento ou substância recobrida com uma “casca” (shell) feito por outra substância, como ilustrada na figura 1 (GAWANDE et al., 2015). É comum vermos nos artigos científicos a nomenclatura  X@Y, onde X é o núcleo e Y a casca.

Possuem propriedades e aplicações interessantes, usadas geralmente quando um único elemento não satisfaz todos os requisitos. O uso da engenharia de materiais para melhorar comportamentos de materiais é aplicado em um sistema que exige duas ou mais funções em uma mesma partícula.

Para ficar mais claro, podemos dar o exemplo de uma nanopartícula core-shell com núcleo composta por óxido de ferro e revestida por algum outro elemento. O óxido de ferro sendo magnética dará propriedade magnética a essa nanopartícula, podendo ser deslocada por um efeito de um campo magnético. Uma aplicação deste tipo de nanomaterial é como carreadora de fármacos que podem ser guiadas através de um campo magnético até um local específico para o tratamento (VERMA et al., 2013).

Outra aplicação é como catalisadores, frequentemente em células a combustível, por possuírem excelentes propriedades eletroquímicas, podendo trabalhar com diversos elementos químicos, como o cobre, platina (SIEBEN et al., 2014), ouro e prata (CSAPÓ et al., 2012).

O processo de síntese envolvendo metais como recobrimento é basicamente reduzir o metal em cima do núcleo. No trabalho de Zhang et al, eles revestem nanopartículas de sílica com cobalto (figura 2) reduzindo um sal de cobalto com borohidreto de sódio (ZHANG et al., 2016). No sistema Au@Ag, por um processo galvânico, a prata tende a reduzir sobre a o ouro, porém em um sistema invertido, requer alguns ajustes e um agente catalizador ou redutor para forçar a redução do ouro sobre a prata.

Core-shell

Figura 2 – Mecanismo de síntese de nanopartíciulas de sílica revestida por cobalto (SiO2@Co).  

A nanotecnologia ainda percorre o caminho da evolução. Nem tudo  está pronto, ainda há muito o que percorrer e este foi apenas uma das formas em que podemos encontrar os nanomateriais.

Referências

CSAPÓ, E. et al. Synthesis and characterization of Ag/Au alloy and core(Ag)-shell(Au) nanoparticles. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 415, p. 281–287, 2012.

GAWANDE, M. B. et al. Core-shell nanoparticles: synthesis and applications in catalysis and electrocatalysis. Chemical Society Reviews, v. 44, n. 21, p. 7540–7590, 2015.

SIEBEN, J. M. et al. Synthesis and characterization of Cu core Pt-Ru shell nanoparticles for the electro-oxidation of alcohols. International Journal of Hydrogen Energy, v. 39, n. 16, p. 8667–8674, 2014.

VERMA, N. K. et al. Magnetic core-shell nanoparticles for drug delivery by nebulization. Journal of Nanobiotechnology, v. 11, n. 1, 2013.

ZHANG, Y. et al. High efficiency reductive degradation of a wide range of azo dyes by SiO2-Co core-shell nanoparticles. Applied Catalysis B: Environmental, v. 199, p. 504–513, 2016.